quarta-feira, 2 de junho de 2010

Anti-MINI francês: como anda o DS3


Assim que recebi a chave do novo DS3 e me apontaram a sua localização no estacionamento, a minha primeira reação foi um misto de pânico e surpresa. Afinal, iria rodar os próximos dias a bordo de um esportivo compacto com pinta de carro-conceito pintado de amarelo! O teto e as rodas pretas amenizam o impacto visual, mas a perspectiva de ele se tornar um autêntico vaga-lume em meio ao cinza predominante da frota urbana não me saía da cabeça. Já o fotógrafo, por outro lado, ficou muito satisfeito com a cor do carro.

Mais tarde, já na estrada, aproveitamos uma parada para examinar o DS3 refeitos da surpresa inicial. Quem diria que a novidade compartilha a plataforma e a maioria dos elementos mecânicos com o novo C3? Fica claro, assim, que o primeiro grande mérito do estreante é se distanciar do “vulgar” compacto de origem francesa. O DS3 tem, assumidamente, um ar mais elitista, uma maior atenção aos detalhes. Pormenores como os faróis diurnos com leds, os logotipos que adornam o capô e a tampa traseira, além dos inúmeros apliques cromados reforçam essa impressão de exclusividade. Esta, aliás, era um objetivo claro, quando se sabe que o novo Citroën tem como alvos o Alfa Romeo Mito, o Mini e o Fiat 500.

Mas se por fora o novo compacto premium impressiona, por dentro a coisa é diferente. Os tons negros predominam e a sobriedade geral só é quebrada por uma ou outra aplicação cromada. Parece se tratar de outro carro.

Ao contrário do que ocorre com outras fabricantes, o painel deste Citroën é específico e combina mostradores analógicos e digitais. De quebra, ainda há um bem dimensionado monitor multimídia que reúne as funções de computador de bordo, navegador e sistema de áudio. Muito bom.

Mesmo assim, o que mais salta aos olhos no interior do DS3 são os belos bancos esportivos que caracterizam a versão 1.6 THP. O revestimento de couro é opcional, mas reforça a aura de exclusividade. Agora chega de conversa e vamos à ação!

O percurso em estrada serviu para avaliar o novo Citroën em alta velocidade e também para constatar que a suspensão se sai bem sobre diversos tipos de piso. Mesmo com dimensões reduzidas, o carro mostrou ótima estabilidade, tanto em rodovias “abertas” quanto nas vicinais. Como o local escolhido para a sessão de fotos situava-se no alto da serra, pude explorar à vontade os 150 cv do motor 1.6 turbo com injeção direta.

O clima instável e os pequenos cursos d’água que atravessavam a estrada recomendavam prudência e acrescentavam um tempero extra à condução do DS3. Por via das dúvidas, o “anjo da guarda” ESP garantiria, por certo, que tudo terminaria bem.

Chegando ao local escolhido, o fotógrafo posicionou-se e deu o ok para iniciar as fotos em movimento. O relativo desconhecimento do carro e a visão do precipício ao lado continham os ânimos, mas, à medida em que as passagens foram se sucedendo, a confiança e a velocidade cresciam. Em determina­da altura, o ESP começou a se tornar um empecilho. É que, apesar de atuar de forma suave, o sistema influencia bastante na condução.

Com uma dianteira quase imune ao subesterço e uma suspensão exemplar, o Citroën DS3 incute um certo atrevimento ao motorista. Assim, quando já tinha esquecido das fotos, do precipício e até da cor do carro, fui chamado de volta à realidade pelo fotógrafo: “Vai mais devagar!”, gritou.

Ok, tenho um trabalho a finalizar. É hora, então, de retornar. Começo a descer a serra e aproveito um trecho com um S para novas experiências, agora com o ESP desligado. Vale dizer que, neste Citroën, quando o controle de estabilidade é desligado, ele não volta a funcionar, nem mesmo em situações extremas. Apesar disso, o DS3 manteve-se imperturbável. A suavidade de reações, aliás, é um de seus pontos fortes.

Em meio à tanta eficácia, o motor 1.6 quase passe despercebido. Com um funcionamen­to linear e uma pujança em baixos e médios regimes, o carro acaba passando a impressão de que é mais lento do que é na realidade. mas os números não mentem. Após marcar 7s7 na prova do 0 a 100 km/h, ele se mostrou tão rápido quanto um Peugeot 207 RC!

No caminho de volta, o computador de bordo exibia a marca de 7,7 km/l, média nem um pouco exagerada, considerando o esforço a que submetemos o modelo. E o melhor é que, no trânsito urbano, o modelo se­guiu se apresentando muito confortável. A se­renidade só foi quebrada pela curiosidade dos outros. Os dedos apontados e os pescoços tor­cidos seguiram o hatchback por toda a parte em que trafegou.

Ao final, muito mais que uma paixão à primeira vista, o Citroën DS3 1.6 THP revelou-se um “amor” que cresceu e se solidificou com o tempo e a maior convivência. E, cá entre nós, não é essa a base de uma relação verdadeiramente sólida? Eu, pelo menos, fiquei plenamente convencido.




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