terça-feira, 2 de junho de 2009

General Motors pede concordata nos EUA e terá dinheiro público para se reerguer

Em telão instalado na sala em que um executivo da General Motors falaria à imprensa, o presidente dos EUA, Barack Obama, comenta a concordata da companhia, nesta 2ªA General Motors entrou nesta segunda-feira (1º), numa corte de Nova York (EUA), com um pedido de concordata. Trata-se da terceira maior quebra de empresa da história dos Estados Unidos, atrás apenas do Lehman Brothers e da WorldCom. A derrocada da GM superou até mesmo a da Enron, em 2001.O presidente norte-americano, Barack Obama, se pronunciou na tarde desta segunda sobre a concordata da GM. Para ele, a "icônica companhia americana" não poderia ficar sem ajuda, já que uma falência total poderia ter consequências muito além da indústria automotiva. De acordo com Obama, após o prazo de 60 dias recebido do governo dos EUA em março, a GM finalmente apresentou um plano de reestruturação considerado "viável".

Por isso, já sob concordata, a GM vai receber do governo dos EUA mais US$ 30,1 bilhões, em troca de 60% do controle da "nova" companhia que emergirá da quebra. O Tesouro norte-americano já havia colocado cerca de US$ 19 bilhões na GM.O governo do Canadá, país em que as operações da GM são importantes, deterá 12% da empresa, entrando com US$ 9,5 bilhões. O sindicato United Auto Workers (UAW) terá assento na diretoria da companhia. Todos os atuais executivos devem ser trocados por homens de confiança de Obama -- que, no entanto, afirmou que seu governo não interferirá demais nos rumos da "nova" GM.
Comente a concordata da General Motors Obama disse ainda que a reestruturação e o reerguimento da GM podem demorar mais do que a recuperação da economia dos EUA, mas que, ao término do processo, a companhia fabricará mais carros nos EUA do que fora dele, além de focar em veículos mais econômicos e menos poluidores.Depois de Obama, foi a vez de Fritz Henderson, atual presidente da GM, falar sobre a situação da companhia. Ele confirmou a intenção de produzir carros mais econômicos e "verdes": "A nova GM, que surgirá entre 60 e 90 dias, terá como foco a produção de carros menores e mais eficientes para o mercado norte-americano, com novas tecnologias e design impressionante", afirmou. Para ele, o pedido de concordata "não é o fim da GM, mas o início de um novo capítulo -- melhor, mais aberto e transparente".Henderson disse que as operações da GM fora dos EUA e do Canadá não sofrerão mudanças. Isso inclui América do Sul, Ásia e África, e mesmo o México, tão próximo do mercado norte-americano. "Basicamente, [apenas] as operações dos EUA e do Canadá serão afetadas, inicialmente, pela concordata", frisou o executivo.
O CAMINHO DA CRISEFundada há 101 anos, a GM foi a maior vendedora de veículos no mundo entre 1931 e 2008, quando a japonesa Toyota a ultrapassou. Mergulhada numa crise sem precedentes -- agravada pelo derretimento financeiro mundial iniciado em 2008, mas originada em procedimentos e estratégias empresariais muito questionados, como insistir na fabricação de picapes e SUVs beberrões e poluidores --, a GM começou este ano devendo bilhões de dólares, inclusive ao Tesouro dos EUA, e enfrentando dificuldades para fechar acordos com seus credores.No primeiro grande sinal da derrocada, no final do ano passado a General Motors teve de publicar um histórico anúncio admitindo vários erros, fazendo uma auto-crítica arrasadora e, finalmente, explicando aos cidadãos dos Estados Unidos porque se via no direito de pedir dinheiro público emprestado para sair do buraco. Agora, vê-se obrigada a apelar à lei norte-americana para proteger-se contra pedidos de falência.A Chrysler, terceira maior montadora de veículos dos Estados Unidos, pediu concordata no final de abril. Seu processo de recuperação inclui uma aliança com a italiana Fiat, já autorizada pela Justiça dos EUA e saudada por Obama, nesta segunda, como um grande passo na viabilização da montadora dos EUA.Não será esse o caminho da GM, que em 2006 descartou uma aliança global com o grupo Renault-Nissan. O que a ex-maior montadora do mundo fez de prático já antes da concordata foi colocar à venda a marca Hummer, marcar o próximo ano como o último da Pontiac, sucatear a Saturn e, na Europa, passar o controle da Opel à canadense Magna. A Ford, segunda maior montadora dos EUA, não chegou a pedir dinheiro ao governo norte-americano.O processo de reestruturação da GM inclui o fechamento de diversas fábricas e unidades nos EUA e o consequente corte de postos de trabalho -- as demissões podem chegar a 20 mil, numa estimativa algo conservadora. Ao menos 11 unidades estão com os dias contados, entre elas, cinco fábricas de motores e estamparias, que devem encerrar suas atividades em 2010. Uma unidade no Estado de Delaware, especializada em roadsters (conversíveis de dois lugares) das marcas Pontiac e Saturn, é outra que terá as portas fechadas. Numa medida do que a quebra e severa reestruturação da GM podem fazer com a cadeia produtiva automotiva, cerca de 100 mil empregos podem ser perdidos nas revendas do grupo que serão fechadas nos próximos anos -- até 6.000 lojas nos Estados Unidos estariam ameaçadas. A esperada diminuição da produção, do catálogo de produtos e das vendas gerais da GM devem não só impedir que a empresa recupere a posição de maior do mundo no setor automotivo, como também fazer com que seja ultrapassada domesticamente pela própria Toyota e, num segundo momento, pela Ford -- que então se tornaria a maior montadora dos EUA.
NO BRASILA General Motors do Brasil ainda não se pronunciou sobre a concordata da matriz. Sua assessoria de imprensa afirmou que não está prevista qualquer manifestação da filial para esta segunda. Uma entrevista coletiva do presidente Jaime Ardila deve ser feita na terça (2). No entanto, uma nota da divisão LAAM da GM (América Latina, África e Oriente Médio) foi divulgada nesta segunda e afirma que as operações nessas regiões não serão afetadas.Desde o começo da crise, a GM do Brasil tem dito repetidas vezes que os problemas da matriz não afetarão o calendário local, porque as verbas para investimentos já estão garantidas. O maior deles é o projeto Viva, uma nova família de carros compactos que deve incluir um hatch e um crossover -- adiantados no conceito GPix, exibido no Salão de São Paulo de 2008.De acordo com informações de bastidores, o lançamento do primeiro modelo do Viva já está programado para o segundo semestre, e acontecerá na Argentina.


DADOS DA COMPANHIA

FINANÇAS - A GM perdeu US$ 31 bilhões em 2008, atingindo perdas totais de US$ 82 bilhões em quatro anos. No ano passado, ela vendeu 8,3 milhões de carros em todo o mundo, contra 9,37 milhões em 2007.
STATUS - A GM perdeu a posição de maior fabricante mundial de carros, mantida desde 1931, para a japonesa Toyota, em 2008
MARCAS/MODELOS - O grupo GM inclui as marcas Buick, Cadillac, Chevrolet (a única vendida no Brasil), GMC, Hummer, Pontiac, Saab (da Suécia) e Saturn; há planos de vender Saab, Saturn e Hummer este ano, e a Pontiac será fechada em 2010. As marcas restantes, prioritárias, representam 83% de suas vendas. Os carros mais vendidos da GM são os Chevrolet Silverado (picape), Malibu e Impala (sedãs), o Cadillac CTS (sedã de luxo) e a picape GMC Sierra.
PESSOAL - Em dezembro de 2008 a GM tinha 243 mil empregados em todo o mundo, 170 mil deles horistas e 73 mil contratados -- desse total 54 mil trabalham em fábricas e são representados pelo sindicato United Auto Workers. Os aposentados são 384 mil horistas e 116 mil assalariados.

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