terça-feira, 2 de junho de 2009

GM pede concordata e venda da Chrysler é aprovada

DETROIT/WASHINGTON (Reuters) - A General Motors pediu proteção contra falência nos Estados Unidos nesta segunda-feira, levando a montadora de 100 anos --que já foi o símbolo da economia norte-americana-- a uma era de incerteza sob controle do governo do presidente Barack Obama.
O pedido de concordata é o terceiro maior da história dos EUA e o maior no setor industrial do país.
A decisão do governo de fornecer mais 30 bilhões de dólares para a reestruturação da fabricante de veículos representa um grande desafio para a administração Obama.
Mas em um sinal de progresso nos esforços do governo norte-americano para reorganizar o setor automotivo, um juiz aprovou, no domingo, a venda de praticamente todos os ativos da montadora Chrysler para um grupo liderado pela italiana Fiat.
A concordata da rival Chrysler, também com apoio financeiro do Tesouro dos EUA, vinha sendo vista como um teste para mostrar qual seria o resultado de uma reorganização muito maior e mais complexa pretendida para a GM.
Obama disse que concessões por parte de trabalhadores e credores permitiram um plano viável para a GM, que agora tem chance de ter sucesso na reestruturação.
"Eu estou absolutamente confiante de que, se bem administrada, a nova GM surgirá como uma empresa que pode competir com montadoras ao redor do mundo e que poderá mais uma vez ser parte integral do futuro econômico dos EUA", disse Obama.
A ambição do governo dos EUA é por um rápido processo de venda da GM, permitindo que uma companhia menor deixe a concordata em um prazo de 60 dias a 90 dias.
Na concordata, a GM será dividida em duas: a "nova GM" e a "velha GM" --que inclui partes da empresa que eventualmente serão liquidadas.
Os ativos da "nova GM" serão transferidos para uma empresa controlada pelos governos dos EUA e do Canadá, pelo sindicato dos trabalhadores UAW e por parte dos credores da GM.
Segundo documentos encaminhados à Justiça, o Tesouro dos EUA só irá financiar a GM se uma transação de venda da "nova GM" for aprovada até 10 de julho.
Para o analista do setor Christopher Richter, da CLSA Asia-Pacific Markets, em Tóquio, a implicação imediata no mercado, com as concordatas de GM e Chrysler, é que ambas serão menores e deixarão espaço para que rivais como Toyota, Honda, Nissan e Hyundai ganhem participação nos EUA.
Um dos maiores desafios para a GM será criar uma linha de produtos com preços mais acessíveis e mais eficientes em termos de consumo de combustível.
A empresa espera manter investimentos de 6,5 bilhões a 7 bilhões de dólares por ano, o equivalente a perto de 5 por cento de suas vendas.
Após o pedido de concordata, as ações da GM foram removidas do índice industrial Dow Jones.
GOVERNO DOS EUA SALVA MONTADORA
Desde o começo do ano, a GM vem sendo mantida viva por recursos do governo dos EUA.
Ao assumir 60 por cento da GM reorganizada, a administração Obama está apostando que a montadora poderá competir com montadoras como a japonesa Toyota após cortar pela metade sua dívida e seus custos trabalhistas sob novo contrato com o sindicato UAW.
De acordo com o vice-presidente financeiro da GM, Ray Young, a montadora precisa ter um valor de 68 bilhões de dólares para que o Tesouro dos EUA recupere integralmente o dinheiro que colocou na empresa.
O governo federal do Canadá e a província de Ontário também se comprometeram a oferecer dinheiro à GM.
A montadora planeja fechar 11 unidades nos EUA e desativar outras três fábricas. A GM não forneceu uma atualização para suas metas de cortes de empregos, mas vinha buscando reduzir 21 mil postos dos 54 mil sindicalizados que tem em seu quadro de funcionários nos EUA.
Apenas o fechamento de fábricas vai afetar de 18 mil a 20 mil trabalhadores filiados ao UAW nos EUA.
"O dia de hoje marca o começo de uma nova companhia, de uma nova GM dedicada a construir os melhores carros e caminhões, com eficiência energética e com qualidade de classe mundial", disse em entrevista coletiva o presidente-executivo da GM, Fritz Henderson.
O sindicato UAW terá fatia de 17,5 por cento na "nova GM". O governo canadense terá 12 por cento e os detentores de bônus da montadora ficarão com 10 por cento.
INVESTIDOR RELUTANTE
Autoridades envolvidas na reorganização da GM disseram que a Casa Branca é um "investidor relutante" na companhia, mas teve que prevenir uma falência que analistas afirmam que deixaria dezenas de milhares de desempregados em um momento de recessão econômica.
A GM emprega 92 mil pessoas nos EUA e é responsável indiretamente por 500 mil aposentados.
Autoridades dos EUA disseram que não há planos de fornecer qualquer outra ajuda financeira à montadora além do já acertado e insistiram que todas as três montadoras de Detroit --GM, Ford e Chrysler-- podem sobreviver. Das três, a Ford é a única que não buscou ajuda do governo federal.
No caso da GM, o objetivo da reestruturação é permitir que a companhia volte à lucratividade se a indústria dos EUA voltar a comercializar 10 milhões de veículos por ano.
Até agora, para parar de perder dinheiro, a GM contava com uma recuperação da marca de 16 milhões de carros vendidos nos EUA por ano, marca vista em 2007, segundo autoridades.
Embora seja esperado que a "nova GM" saia rapidamente da proteção contra falência, suas fábricas fechadas, equipamentos e outros ativos devem ser deixados para uma futura liquidação.
No final de semana, a GM conseguiu o suporte para sua reorganização de investidores que representam 54 por cento da dívida de 27 bilhões de dólares com detentores de bônus.
Os detentores de bônus poderão ter até 25 por cento da GM se a empresa recuperar o valor de mercado que tinha em 2004.
(Reportagem adicional de David Bailey, Soyoung Kim, David Lawder, John Crawley, Leah Schnurr, Poornima Gupta, Walden Siew e Tom Hals)

Nenhum comentário: