Acabou. Chegaram ao fim as apresentações do Salão de Detroit (NAIAS). Oficialmente ele só termina nesta terça-feira (13) às 13h25 (horário local), mas o que todos queriam ver já passou pelos olhos. E decepcionou. Não que se esperasse um show após o outro em meio à tempestade financeira que está apenas começando por aqui, mas palavras como "pesadelo", "situação terrível" e "quase irremediável" não são raras de escutar a cada entrevista. Há quem garanta ser esse, de longe,o salão mais frio da historia. Não só pela temperatura, que chegou aos -13º C, nem pelos lançamentos - que até deram as caras por aqui -, mas sim pela falta de perspectiva em um mundo melhor para o setor em 2009.
A GM abriu a mostra com um Wagoner sorridente e munido do discurso de que a GM "faz carros excelentes, picapes sem igual e é líder em tecnologia há tempos", palavras inversas às do comunicado feito há algumas semanas, quando ele se desculpava pela falta de qualidade dos carros da marca. Ao lado dos jornalistas, havia cerca de 600 funcionários da fabricante que trabalham em Hamtramck, nas cercanias de Detroit gritando palavras de incentivo como “Were eletric” (nós somos elétricos), “Charged Up” (carregado), “40 mpg” (medida de consumo usada nos EUA equivalente a 17 km/l) e “Here to Stay” (aqui para ficar). Todas estampadas em letras garrafais em placas de 1 metro quadrado.
Na conversa com Chad OBrien, um dos manifestantes, afirmou que “isso é importante para mostrar a todos que quem faz o trabalho da GM acredita na empresa mais do que tudo e todos”. Por outro lado, outro empregado que resumiu seu nome a Justin, um jovem, tipicamente americano desta região, afirmara quem nem todos estavam ali de livre e espontânea vontade. “Primeiro nos pediram para vir, voluntariamente e só houve 65 adesões. Depois convocaram o restante e pagaram hotel, alimentação e mais um dia de folga do trabalho”, disse. Perguntado sobre qual era a situação dele, apenas sorriu, piscou um olho e disse “eu amo a GM, cara”. Foi fácil perceber.
Do lado de fora, meia hora depois, uma mini passeata da UAW (United Auto Workers, sindicato dos trabalhadores da indústria automotiva) com 80 funcionários das três grandes montadoras que reclamavam da perda de benefícios que serão “obrigados” a aceitar para manter seus empregos. Nick Lauher, de 41 anos, cabeludo e dono de um grande bigode gritava: “Nos construímos este país, não vão nos tirá-lo”.
Entre as novidades da marca, eis o Volt. Novidade? Sim. Rick Wagoner mostrou aos jornalistas que o sistema de baterias está pronto, feito em conjunto com a LG sul-coreana. Quem mostrou vigor foi o Cruze, novo sedã da marca que tem ares de BMW Série 3. Saturn Aura, Chevrolet Aveo, Cadillac Converj e até o Camaro, pasme, fizeram um desfile, bradando suas capacidades de economizar combustível.
O Beat também vem aí, mas com nome de Spark. Será o carro compacto mundial da marca e estréia em 2011. Brasil? Pode ser. Caso seja feito no México. Hoje a marca encerrou suas apresentações com outro desfile, só que pela Washington Boulevard, em frente ao Cobo Center, local do evento. Desta vez 18 Saturn Vue Hibrid (o nosso Captiva) estavam perfilados junto a mensagem "Change", em comemoração e desejo de Boa Sorte a Barack Obama, abaixo da placa havia a data da posse 1 - 20 - 2009. Faltou entusiasmo, faltou glamour, faltou o famoso hot dog no estande da marca. O governo Americano está de olho na GM. Gastança só de trabalho.
Pelos lados da Ford, não se viu o semblante cabisbaixo de sua maior concorrente em solo ianque, no entanto nada de empolgação. A marca lançou o novo Ford Taurus, um belíssimo sedã, de acabamento requintado ao extremo e sem nada a ver com a barca que frequentou o Brasil por duas gerações consecutivas, prometeu o Fiesta para a metade de 2009 nos EUA, mostrou o novo Mustang Shelby GT 500 mais potente da historia e encerrou a apresentação com a cabeça enfiada no meio ambiente. A linha EcoBoost ganhará as ruas a partir de fevereiro, “gastando como um econômico V6 e andando como um V8 graças ao turbocompressor”, afirmava Derrick Kuzak, vice-presidente global de desenvolvimento da montadora. Será isso o bastante para o americano voltar a comprar? Veremos.
Na Chrysler viu-se a mais acachapante imagem do tamanho da crise. Apesar de toda a desenvoltura de Jim Press, vice-presidente do grupo, ao tratar do assunto, ele passou boa parte da apresentação dando exemplos do tamanho da crise no mundo para justificar a queda de 50,2% nas vendas em 2008. “O ano foi péssimo, creio que 2009 não possa ser pior, mas vai que seja, ninguém sabe... estamos trabalhando com tudo feito para o novo século, mas o mercado se retraiu tanto que voltamos aos anos 1980”, confessou em entrevista exclusiva ao Carro Online.
Apesar disso, felizmente, a marca continua em sua escalada de produtos excitantes. Anunciou que em breve terá um esportivo elétrico, o Circuit EV. Alias, EV foi o nome oficialmente dado a toda linha híbrida, que trouxe o Patriot, Town & Country e Wrangler Unlimited. A boa nova foi o conceito 200C, uma releitura do 300C em tempos mais simplórios. Ele é menor que a inspiração, mas tem linhas mais agressivas e musculosas, sem, em momento algum, perder a identidade da marca. Na minha opinião, o principal destaque entre as “big three”.
Na outra ponta do mapa da crise, sem fugir dele, esteve a Toyota. Cotovelos e flashes para todos os lados só para ver de perto a terceira geração do Prius. Lançado em 1997, o híbrido da marca chega a 2009 com desenho aprimorado, mais equipamentos e bebendo ainda menos, sua principal característica. Faz 21,2 km/l em percurso combinado entre cidade e estrada. Reconhecendo o péssimo ano de 2008, no qual a empresa detectou seu primeiro prejuízo na historia, Bob Carter, responsável pelas operações da Toyota nos EUA, afirmou que "não haveria momento melhor para lançar a terceira geração do Prius do que em meio à tormenta pela qual o mundo passa".
Foi melhor que a Honda, que apesar de apresentar o híbrido Insight, não trouxe um único executivo para a mostra Americana. Expôs os carros, distribuiu seu material de divulgação e pronto. Só. Desconfiança? Economia? Desdém? Que tal os três?
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