segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Carro de plástico: em breve, uma realidade








Presidente da Plascar fala sobre a presença crescente do material







Ela não é uma empresa muito conhecida, mas é muito provável que o painel e as partes de plástico do interior do seu carro tenham sido produzidas por ela. A Plascar, com sede em Jundiaí, no interior de São Paulo, apresentou recentemente duas grandes inovações ao mercado brasileiro. Uma delas foi o carro construído inteiramente utilizando polímeros plásticos e a outra foi a roda com o mesmo material, que será lançada já no próximo ano. Para esclarecer um pouco mais sobre esses dois projetos, o Carro Online conversou com o gerente de engenharia avançada da empresa, Márcio Tiraboschi. Acompanhe:

Carro Online – Recentemente, a Plascar apresentou em um seminário da SAE Brasil um carro com carroceria e demais elementos feitos de plástico. Qual foi a idéia de criar esse carro? A intenção era mostrar o desenvolvimento do uso do material?

Márcio Tiraboschi – A principal idéia é mostrar aos nossos clientes e ao mercado o potencial da utilização dos materiais poliméricos para veículos, não só restringindo aos componentes tradicionais, mas pensando em toda uma carroceria de plástico. A nossa idéia não é fabricar veículos e muito menos competir com os nossos clientes, que são as montadoras. O objetivo foi colocar alguns insights para que o pessoal comece a ver todas as vantagens que um veículo de plástico pode oferecer, desde a liberdade de design e redução de peso até a relação custo/benefício mais vantajosa utilizando materiais plásticos de diferentes processos e diferentes polímeros.

Carro Online – Em relação ao peso de um carro com carroceria convencional, de aço, quão mais leve é esse automóvel de plástico?

Márcio Tiraboschi – Esse é um veículo conceito, mas em nossos cálculos ele ficou de 20% a 25% mais leve que um modelo tradicional. Ele está com uma massa de aproximadamente 625 kg a 650 kg, enquanto um Fiat Mille varia entre 890 kg e 900 kg (de acordo com dados da Fiat, o Mille apresenta massa de 830 kg em ordem de marcha). Ele possui motor, suspensão, tração, tem toda mecânica e pode rodar sem problemas. Toda carroceria, sem exceção, é inteira de plástico e as janelas são de policarbonato. Somente o pára-brisa permanece feito de vidro por questões de legislação.

Carro Online – E como foi a aceitação da indústria?

Márcio Tiraboschi – A receptividade foi bastante positiva porque começa a estimular a idéia principalmente dos designers das montadoras. Quando você vê um veículo desse e como os raios ficam arrojados você começa a pensar em veículos para um futuro a curto prazo com uma aerodinâmica muito mais agressiva do que nós temos hoje no mercado.

Carro Online – Qual é o motivo para essa facilidade no design?

Márcio Tiraboschi – É a propriedade do material polimérico em ser moldado. Enquanto em uma chapa de aço você tem restrições de estampagem, no material plástico basta inserir esse composto fundido em um molde e obter os detalhes que você quiser.

Carro Online – E com relação à segurança, ele está no mesmo nível dos automóveis convencionais? Fez algum tipo de crash test?

Márcio Tiraboschi – Ele não fez um crash test porque é um veículo conceito e não está em nosso escopo aprovar esse carro para colocá-lo no mercado. O material polimérico tem um alto índice de absorção de energia, então você preserva o habitáculo, que é a célula de sobrevivência, enquanto faz com que a carroceria absorva o máximo de energia necessária. O diferencial é que o plástico não amassa, ele absorve energia de forma elástica sem ter uma deformação permanente. Por isso, ele poderia ser até mais eficiente do que um carro comum em questão de segurança.

Carro Online – No que diz respeito à reparabilidade, essas partes de plástico podem ser consertadas ou devem ser trocadas?

Márcio Tiraboschi – A nossa idéia é que, no caso de um arranhão, por exemplo, você pode reparar como você faz em um veículo tradicional, mas nós queremos tornar o produto tão competitivo que, se você danificar um pára-lama, por exemplo, em vez de você fazer uma funilaria, você pode substituir o pára-lama. Sendo assim, a pessoa poderia levar a peça danificada em uma concessionária e pegar uma nova justamente pela questão da reciclabilidade do material.

Carro Online – O custo seria acessível para permitir essa troca?

Márcio Tiraboschi – Seria sim. Hoje, como exemplo, a montadora francesa Renault já utiliza pára-lama de plástico.

Carro Online – O desenvolvimento do projeto permitiu desenvolver novos componentes, novos sistemas, ou já são tecnologias que a empresa domina?

Márcio Tiraboschi – Tudo o que está no veículo são tecnologias que a Plascar domina. Nós fizemos questão de adotar diferentes materiais plásticos e combinar diferentes processos de moldagem como peças injetadas, termoformadas, produzidas por compressão e peças laminadas manualmente. Com ele, nós mostramos o leque de possibilidades que você pode trabalhar em matéria-prima e processo.

Carro Online – Na sua opinião, o que seria um impedimento para que essa tecnologia entre de vez no mercado?

Márcio Tiraboschi – Na visão do grupo Plascar, é a questão cultural. Tradicionalmente, o mercado em que nós atuamos, do Mercosul, ainda tem uma resistência a utilização de componentes plásticos. A área de marketing das montadoras e a própria mídia tem que apontar todos os pontos positivos do veículo em polímero sem utilizar o termo plástico porque conota um termo muito pobre.

Carro Online – Como é esse posicionamento cultural em países europeus e nos Estados Unidos?

Márcio Tiraboschi – Eles já aceitaram e estão ampliando a introdução dessas tecnologias em países europeus e agora nos EUA, que está tendo uma revolução completa dos conceitos.

Carro Online – Outra inovação da Plascar é a roda de plástico, que será lançada em 2009. Qual é a sua principal vantagem?

Márcio Tiraboschi – A principal vantagem é a redução no peso que, comparada com um roda em aço, chega a ser de 30% a 40% mais leve e, em relação a uma de liga leve, pode ser até 20% mais leve. Outras vantagens são a liberdade no design e a segurança porque os materiais que nós estamos desenvolvendo têm uma altíssima performance mecânia, ou seja, eles absorvem muita energia sem causar deformação na peça. Em relação a uma roda de liga leve, ela absorve de três a quatro vezes mais energia.

Carro Online – Em alguns casos, a roda de plástico permite retífica, como uma de liga leve? Ela é mais barata e necessita de balanceamento?

Márcio Tiraboschi – Se ela estiver a ponto de quebrar precisa ser trocada e permite o balanceamento, só que até agora todas as unidades que nós produzimos foram checadas e o procedimento não foi necessário em nenhuma delas. Com relação ao preço, ela é mais cara que uma roda de aço, porém mais barata que uma de liga leve. Hoje ela é intermediária, porque ainda está muito difícil competir com o aço.

Carro Online – Mas por essas vantagens ela compensaria...

Márcio Tiraboschi – O que nós queremos é mostrar para o mercado automotivo e as montadoras não é só a vantagem da roda em si, como item isolado, mas a gente quer estimular a engenharia das fabricantes a redimensionar todo o sistema de powertrain (conjunto motor e câmbio) do veículo, porque, a partir do momento que você tem um veículo mais leve, você redimensiona suspensão, sistema de frenagem e até a própria motorização. O desempenho de um motor 1.0 l num veículo desses será superior ao que nós temos atualmente no mercado.

Carro Online – No curto prazo, o que nós podemos esperar de inovações na área de interiores para automóveis?
Márcio Tiraboschi – Temos atuado bastante no conceito do banco plástico, ou seja, eliminar toda a estrutura metálica dos bancos e fazer em material polimérico. Dentre as vantagens estão o melhor conforto, a redução de peso e o aumento do espaço interno do veículo. Outro item que a gente tem trabalhado é a utilização de nanotecnologia interna. A maioria dos veículos da América do Sul utiliza bastante polipropileno, que é um material fantástico em termos de performance e flexibilidade e tem um custo bastante atrativo, porém ele peca muito na questão de riscabilidade. Então, nosso trabalho consiste em utilizar essa tecnologia para mudar a estrutura do polipropileno e torná-lo mais resistente a riscos.




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