sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

BASTIDORES DA INDÚSTRIA

Quanto mais feio, melhor: a arte de disfarçar
Primeiras saídas de protótipos às ruas exigem camuflagens grotescas

A indústria automobilística vive e respira diuturnamente a criação de novos modelos. Isso tem grande importância para dois grupos de interessados: os competidores e a imprensa. Os primeiros porque precisam reagir o mais rápido possível às inovações que estão sendo constantemente introduzidas.
Para os jornalistas é um tema bastante sensível por atrair leitores e telespectadores. O aspecto exterior do carro já diz muita coisa sobre o futuro lançamento e se sobrepõe às características técnicas em termos de curiosidade. Assim, camuflar o novo estilo de um carro para escondê-lo de olhos curiosos tornou-se uma verdadeira arte e vem evoluindo ao longo do tempo.Os modernos programas de computador são ferramentas capazes de desenvolver ou simular várias etapas do processo de criação de um produto. Equipamentos, estilistas e engenheiros ficam bem protegidos em setores de alta segurança nas fábricas ou centros de projetos. Mas é inevitável que os resultados necessitem de validação e aí não há outra solução: protótipos precisam ser liberados para o seu habitat – ruas e estradas.
As fábricas passam então a uma pesada operação de disfarçar os protótipos. As primeiras saídas para testes exigem camuflagens grotescas e deformam completamente a aparência. Criam-se moldes para produzir estruturas de plástico fixadas à carroceria por meio de cintas ou tiras de velcro porque as frotas de protótipos podem passar de 200 unidades.Materiais específicos, recheados de espuma, ajudam a esconder o contorno do veículo e as linhas das janelas. Em muitos casos torna-se essencial não dar nenhuma pista do tipo de carroceria. Faróis e lanternas exigem mais atenção, porque as autoridades de trânsito não permitem que protótipos circulem sem a sinalização de segurança devida.Disfarces astesanaisO disfarce deve atender às normas e ao mesmo tempo esconder qualquer pormenor que permita identificação. O jeito é fabricar artesanalmente luzes e faróis falsos, mal-acabados e distanciados da realidade. Quanto mais feio, melhor. Um dos truques utilizados no exterior era o uso de emblemas modificados de marcas concorrentes. Dessa forma, enganava-se o espião. Uma rede de informantes, no entanto, começou a filtrar os trajetos utilizados e monitorar entrada e saída de instalações conhecidas. Hoje ninguém se surpreende com essa manha.
Os fabricantes tentam reinventar rotas e mudar trajetos, porém muitas vezes há limitações técnicas em razão da repetibilidade de certos testes. Até chegar o momento, mais próximo do lançamento, em que os disfarces pesados prejudicam a aerodinâmica e os testes acústicos, como detecção de ruídos de vento e grilos em geral. A carroceria precisa ficar limpa de penduricalhos.Durante anos elas eram disfarçadas por quadriculados em preto-e-branco, como em um tabuleiro de xadrez. Mas isso ainda dava boas dicas para o profissional especializado em apagar marcas com a ajuda de programas de tratamento de imagens. Agora se empregam técnicas bem apuradas.
As subsidiárias da GM na Europa, Opel e Vauxhall, desenvolveram desenhos superficiais elaborados para confundir lentes das câmeras e até olhos humanos. O material do disfarce brevemente terá efeito de cintilamento, prejudicando a qualidade das fotos.O último a passar por essa operação de disfarce no exterior foi o recém-lançado Opel Insignia, substituto do Vectra europeu, que acaba de ser eleito Carro do Ano no Velho Continente. Mas não faltam exemplos do artifício no Brasil. Basta constatar a quantidade de flagrantes que os leitores nos enviam todos os meses.No final é um longo jogo de gato-e-rato, embora no fundo as fábricas saibam que criar expectativas faz parte da estratégia de chamar a atenção de compradores potenciais para um novo projeto. Mesmo que, em público, não admitam.

Nenhum comentário: